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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A DESCONSTRUÇÃO DO MACHO ALFA (Primeiro texto)

UMA SOCIEDADE ALICERÇADA NA FIGURA DO MACHO ALFA


Durante séculos o homem precisou reprimir os sentimentos e buscar o sustento da família, sendo o alicerce e a proteção da mesma”.




 A história da sexualidade humana é marcada por muitas mudanças, sejam de formas de expressão até formas de sentir. Na pré-histórica, o Homem de Neandertal  e posteriormente o Homo Sapiens se relacionava com a fêmea como um objeto, a imagem do homem a arrastando pelos cabelos mostra a relação animalesca do convívio. Ele era o provedor, ela a responsável pelo conforto da família e em sacia-lo. A poligamia era algo comum, pois quanto mais forte um macho fosse, mais fêmeas podia sustentar. Esta formatação de relacionamento vai se modificar na Grécia e entre os Celtas.

Na Grécia – cidades estados; duas localidades se destacam Atenas e Esparta, enquanto na primeira a arte e a filosofia eram  centro da vida, na segunda a arte da guerra era venerada. A figura do homem e da mulher estava vinculada aos valores culturais- o homem ateniense era um filósofo e artista, no sentimento e na lógica estava sua arma, a relação era monogâmica, a mulher respeitada e ouvida. O de Esparta um guerreiro em que os sentimentos pouco tinham importância, bebês defeituosos eram mortos, a mulher era um objeto de deleite e prazer, além de cuidar da família, fornecia ao macho as servas que ele quisesse, e era natural ter relações com outras mulheres, à única preocupação era em proteger e cuidar da família. 
Na Gália- hoje Inglaterra; os Celtas e a religião Druida davam as sacerdotisas  um poder expressivo, a mulher era a matriarca e todos deviam se curvar diante da sabedoria, beleza e do poder mágico. Alguns textos narram à poligamia feminina, a mulher como a deusa grávida, pronta para conceber novas feiticeiras, homens para a guerra e para servi-las.

A cultura Romana vai absorver os dois conceitos dos Gregos- a filosofia e a arte, como também a guerra. A figura feminina era respeitada como mãe, mas as relações fora do matrimônio era algo natural, que vai modificar-se com a LEX ROMANA, dando a mulher e aos filhos mais direitos. Importante ressaltar que a cultura matriarcal dos Gauleses e dos Druidas foi totalmente dizimada pelos Romanos, não conseguindo interagir de forma mais profunda no mundo de então, só vamos encontrar o poderio feminino em alguns locais estanques como a ilha de Lesbos.

Com o advento do Cristianismo e os ensinamentos de Jesus, solidificando a ideia de monogamia e do sexo após o casamento- a repressão de impulsos antes tão naturais, como o domínio sobre o mais fraco, a mulher como objeto, a liberdade de expressar livremente a sexualidade, vai sofrer repressão. Sabemos que a repressão cria monstros, e foi o que aconteceu. Com a queda do Império Romano, a Igreja Católica Apostólica Romana- herdeira direta de Roma, sua língua o latim, sua prática política- César e o Senado, o Papa e o Conselho de Cardeais; com o panteão Júpiter e os outros deuses, Deus e os santos. Vai surgir a famosa Idade Média ou “Idade das Trevas.”

O mundo vai ser dividido entre vassalos e servos, a relação de poder vai ficar muito visível. A maior senhora feudal neste momento é a Igreja Católica- ela tem duas armas que usa com maestria, a confissão auricular- descobrindo todos os segredos e usando para manipular situações políticas e a chave dos céus- “o que ligares na terra será ligado nos céus!” A carreira religiosa era algo desejado por todas as famílias, ter um sacerdote ou uma freira na família era elevar socialmente a família. Quem não cooperasse com as determinações da Igreja, além de ser combatido com os exércitos que possuía, também era excomungado- ou seja, havia a compreensão de que iria para o Inferno, uma dupla punição. E diante da excomunhão todos temiam ninguém se atrevia a ir contra. O casamento de clérigos é abolido para não se ter herdeiros, a herdeira de todos os bens dos clérigos que morressem era a Igreja.

A sexualidade era escondida, tudo se fazia à surdina, práticas abusivas feita pelos condes, padres, bispos, cardeais. A pedofilia era algo comum sem nenhuma sanção- pois o infante era visto como um adulto em miniatura mandava-se as crianças para as batalhas daí o nome “infantaria”. A tortura como algo comum, a mulher era molestada- caso não tivesse uma posição social; e nada acontecia, o sexo tão defendido pela Igreja como sagrado tendo o objetivo da procriação, na prática era uma orgia, todos com todos. Diante da promiscuidade e da falta de higiene surgiu à peste negra pela infestação de ratos contaminados. Atribuiu-se as bruxas o surgimento desta doença, e começou a perseguição a elas- na maioria mulheres, que tivesse algum comportamento diferente, ou quisessem que morresse, era denunciada, presa e morta.  
A ciência, a arte, tudo estava subordinado à visão teológica da Igreja. Vemos nesta época alguns raios de esperança: Francisco de Assis, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino. O primeiro buscando uma reforma da Igreja para acolher os necessitados e um respeito à natureza; o segundo refletindo sobre a Graça de Deus, e a razão analisando os prolegômenos da fé; o terceiro colocando a razão como base da fé, a fé subordinada à razão. Todos defendendo uma sociedade e uma Igreja ética baseada no amor.
No mundo Oriental vemos o surgimento de Maomé, mostrando uma sociedade baseada, no respeito, na ética e na devoção. A figura feminina era submissa ao homem, se não se casasse e os pais morressem virava uma mendiga daí à poligamia como forma de amparo e cuidado com a mulher. Cabia ao homem cuidar de quantas pudesse sustentar limitada ao número de cinco. Diante de uma sociedade baseada na ética e na devoção, o mundo Ocidental era visto, como uma orgia- pedofilia, adultério, bacanais, hipocrisia e falta de respeito e desamparo da figura feminina, como “Os Infiéis!” Pela ótica que temos hoje podemos dizer o mesmo daquela época.


Em 1517 com a Reforma de Lutero com as 95 teses, buscando uma modificação interna da Igreja, ele não tinha o desejo de deixá-la, mas com a Dieta de Worms e o interesse dos príncipes alemães, começou e deflagrou-se pela Europa dando início aos burgos- cidades; ao Renascimento. A filosofia e a arte que estava escondida nos mosteiros- mosteiro como local de resistência a este período difícil- leia “O Nome da Rosa” de Humberto Eco; ressurge com toda a pujança. A sexualidade se submete a ética do trabalho, ser um bom cristão é ser produtivo- ver o livro de Max Weber “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.”

 O trabalho em primeiro lugar, diferente da época dos Gregos que era a arte e a filosofia ou a arte da guerra em primazia, ou dos Druidas- as artes mágicas; dos Romanos que tinham o prazer e a guerra como base de suas vidas, ou na Idade Média que colocando a máscara da religião fazia-se tudo com todos, sem ética nem critérios a não ser o poder abusivo.
A sexualidade tinha como alicerce a figura masculina, a frente do pensamento, da arte, da guerra, da Igreja. Toda base da sexualidade estava sob os ombros da figura do Macho Alfa, que deveria ser respeitado, acatado, adorado, como provedor e cuidador da família! (Continua)


Marcelo e Tainá

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